Falar da vida da professora Silvia Lane é falar da história da Psicologia Social, da história da PUCSP, do curso de Psicologia, da Psicologia Comunitária, da Psicologia Sócio-Histórica, da ABRAPSO, da construção de uma Psicologia na e da América Latina. Todas essas histórias têm, em seu percurso, Silvia Lane. Silvia é história e é história em vários sentidos. É história porque esteve sempre atuante, construindo Psicologia; Silvia é história porque compreendeu como poucas pessoas, no âmbito da Psicologia no Brasil, que as iniciativas e as decisões que são tomadas, as pesquisas que se escolhe desenvolver, os textos que são ditos e escritos, as aulas que são ministradas, nada disso é isento e fruto apenas de boa vontade; são ações políticas que constroem o futuro da Psicologia. Depois de 30 anos de convivência com Silvia Lane, tenho a certeza que esse é um dos aspectos mais importantes de sua história: o saber-se histórica. Saber que nosso estar no mundo não pode ser tomado de forma ingênua; não pode ser tomado como um simples estar no mundo. É preciso compreender nosso papel de sujeitos ativos, construtores da história, transformadores do mundo e de nós mesmos.
Isto é tão claro para Silvia que ela sempre buscou reunir, unir, organizar para projetar; buscou o coletivo para a partir dele construir um projeto de intervenção. Tive a honra de participar desse coletivo.
Fui monitora de Silvia Lane, na disciplina de Psicologia Social; fui professora da disciplina de Psicologia Social, na equipe coordenada por ela; fui sua orientanda no mestrado e no doutorado; sou sua parceira na equipe de Sócio-Histórica da PUCSP. Uma vida profissional com Silvia Lane, da qual me orgulho, pois as atividades que desenvolvi, tiveram sempre a presença da professora, mestre que soube, como poucos, viver a dialética necessária da atividade de ensinar.
Marilena Chauí, em um brilhante texto sobre Ideologia e Educação, nos diz dessa dialética e nos ensina que o bom professor é aquele que se esforça para que seu lugar de professor permaneça vazio, tornando possível seu preenchimento por todos aqueles que não o ocupam ainda. O bom professor não se assenhora do lugar de mestre, mantendo os alunos, para sempre, na condição de discípulos, mas ao contrário, com seu trabalho faz desaparecer a figura do aluno enquanto aluno, para que possa ocupar o lugar vazio daquele que sabe e poderem, então, dialogar, através do conhecimento. Nesse sentido é que Silvia Lane soube e sabe ser professora.
Silvia Lane é plural; Silvia Lane é verbo porque é ação constante para a transformação; Silvia Lane se conjuga na primeira pessoa do plural: nós “ Silvia Laneamos”.
Ana Mercês Bahia Bock — Professora de Psicologia Social da PUC-SP; membro da equipe de Psicologia Sócio-Histórica da PUCSP; presidente do CFP, gestão 97/2001
* Orelha do livro
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